quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Memórias-Mistérios (ACREDITE SE PUDER)

PAI PROTETOR

Por volta de 1920, lá num cantinho da cidade de Vitória da Conquista, (Bahia), vivia o meu pai, cercado de muitos irmãos, pai e mãe. Família numerosa e pobre.
Ele tinha o costume de se juntar aos amiguinhos, logo pela manhã, para irem nadar nos lagos próximos do seu bairro.

Nesse dia, quando os colegas o chamaram, estavam entusiasmados porque haviam descoberto uma lagoa muito grande, que ficava bem longe das redondezas. Andaram... andaram... muitos queriam até desistir, porque tinham que chegar em casa, a tempo de tomarem um banho e seguirem para a escola.

Por fim, chegaram. O lugar era lindo... realmente, deslumbrante!
A água era parada e preta... a sua fundura, só Deus sabia onde ia chegar.

Todos, animadíssimos, tiraram as suas camisas, jogando-as no chão, ansiosos por darem um mergulho.

Meu pai tirou a sua, lentamente... e dirigiu-se até um pé de goiaba, para pendura-la ali.
Ao aproximar-se, deu de cara com um homem austero, raivoso... que olhava para ele, mostrando ira... muita ira!

Aquele menininho magrelo, assustou-se e nem quis pendurar a sua camisa. Apertou-a contra seu peito, e tremia, como ele só.
Encarou aquele homem de cima a baixo e exclamou: Pai... o que o senhor está fazendo aquí?

Aquele senhor não perdeu tempo e lhe disse: Saia daqui agora! Essa lagoa é perigosa demais... Corra já pra casa, que sua mãe precisa muito de você! Jamais volte aqui, entendeu? jamais volte agui!

Afonso vestiu apressadamente a sua camisa e disse aos colegas: Vamos correr daqui, já! Ninguém pula na água, por favor!
A turminha tentou resistir, mas ele, que era eloquente, os convenceu.
Todos o acompanharam de volta, e durante o trajeto, ele contou o que viu.

Ao aproximar-se de suas casas, cada um ia se dispersando... no fim da rua, só se via o magrelinho Afonso, dobrando a esquina. Dali mesmo, ele notou que havia uma aglomeração dos vizinhos, na porta de sua casa. Achou estranho... suas perninhas tremeram, seu coração se apertou.

Caminhou mais depressa... viu pessoas encostadas na parede, chorando e falando baixinho com as outras. Ao entrar na sala, ouviu alguém dizendo: Coitado... morreu dormindo!

Seu pai, silenciosamente recepcionava seus visitantes, deitado sobre uma mesa de madeira, com suas mãos cruzadas e envoltas num têrço, onde ele rezava suas orações, até então.

19/10/2003


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